
Meus olhos se fecham e ainda posso ver. Imagens, discursos, tons Almodóvar e você chegar perto de mim. Ao mesmo instante sinto a distancia dispersar cores e os tons tornarem-se cinzas. Michael Ende sabe muito destes tons, tomamos café e ele me contou.
Cinzas e cinzas do que não deu tempo para ficar pronto. E talvez nunca fique, porque o movimento é constante. Não creio que tenho me enganado a sentir presenças. Não mesmo! Parece que brinca de doar. Quando pensei que o presente era meu também, me enganei. Presenteamos-nos o tempo todo, e achei que poderia ser um pouco meu alguns presentes.
Riscos e rabiscos. Versos e verdades. Segredos e cumplicidades tornam-se cinzas. Cores e texturas. Íris e imagens fotográficas perdem a cada dia cores.
Já andei por muitos lugares e ainda tem muitos para ser meu um pouquinho. E me pego esquecida de lembranças e por alguns momentos me fazia lembrar.
Pego-me novamente esquecida de lembranças. Quando chegam não encontram mais contextos e nem formam textos, por causa desse medo que te ronda, deve ser os cinzas! Não pensei que poderia fazer mal e nem bem, apenas fazer algo. Movimentar moléculas. Fazer sangue circular. Músculos fortalecer. Pele exalar cheiros. Tatos vibrar na ponta dos dedos sujos de tintas, do carvão, da caneta, dos micróbios ao teclar. Só fazer algo! Fazer ventos soprar cabelos, homem virar pó e pó fertilizar a Terra. Flor brotar a olhos vistos. Só fazer algo! Coração brotar galhos e folhas. Brisas serem geladas como Ártico e frescas como a do mar dentro de nós. Só fazer algo!
Não podemos ter tudo na medida em que queremos, não é? Mas eu posso! E emprestei de você sentidos e significados que talvez não tivesse intenção de emprestar. E te devolvo na media. Fiquemos no tempo então, com o que compartilhamos.
Não seja formal e sim real. Diga verdades e não faça promessas que não pode ou tenha a intenção de cumpri-las. Todas foram falhas. Sabe por quê? Não quis perder, mas também não soube ganhar e está aprendendo a cuidar. Como quer rosas se não cultiva a roseira? Como quer ver borboletas se o jardim está seco, vê flores? Já viu uma crisálida abrir? É preciso paciência para isso! É preciso interessar-se por isso. É preciso dar sabores para isso.
Isso está ai.
Está aqui.
Isso é o que envolve.
Movimenta
Transgride
Percebe
Recusa.
Isso faz parte de tudo e de nada.
É meu
Seu
Nosso
É emprestado
Endividado
Libertado.
Isso causa sentidos e significados.
Raiva
Frio
Calor
Vontade
Desejo
Paladar.
Isso é o que sente fome.
Come
Sacia
Procria
Deglute
Isso mata.
Isso vive.
Devagar
Rápido de mais
Constantemente
Impiedoso
Soberano
De vontade.
Isso não se compra e nem vende.
Escolhe
Doa
Busca
Experimenta
Merece
Conquista.
Isso tem um preço.
É caro
Barato
Está na promoção
Liquidação
Extinção
Extensão.
Isso é que proponho.
Que dá medo
Força
Sondagem.
Isso é sábio.
Tem coragem
Virtude
Liberdade.
Isso tem seu tempo
Não tem pressa
Passos lentos
Curtos
Sente ventos
Sabemos o que é.
Isso está guardado
Enclausurado
Imaculado
Primitivo.
Isso tem vontades
Não sabe esperar
Não quer ocultar
Parar
Mas sabe voltar
Porque isso se basta
Vive consigo
Segura
Confio
Fio
Tece
Isso é o que dizem as línguas.
Traduzem os poros
Buscam os tatos
Escutam os cheiros
Cheiram os sabores
Isso é obsceno
Assim relatam os poetas.
Cris Perônico
10/02/09
Nenhum comentário:
Postar um comentário